sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Elogio da Escola no Amã

Durante o mês de setembro de 2017 tive a oportunidade de participar de dois momentos inspiradores relativos ao projeto Elogio da Escola*, realizado em Florianópolis - Santa Catarina em 2016 com a articulação de Jorge Larrosa, professor de Filosofia da Educação da Universidade de Barcelona, reconhecido, especialmente, pela discussão sobre a experiência e a educação e, também, pela sua inquietante obra Pedagogia Profana, lançada há vinte anos, mas de vigor ainda incontestável. O primeiro encontro aconteceu com Karen Rechia (UFSC) e Jorge Larrosa em uma jornada de educação realizada pela UNEMAT, em Cáceres - Mato Grosso, onde realizamos conversas e exercícios de atenção e de pensamento sobre a escola a partir de três filmes: Escolta (2014), Teoria da Escola (2017) e Elogi de l’escola (2010). O segundo encontro aconteceu com Larrosa, na Unirio/UFF, em parceria com a #UERJResiste, no Rio de Janeiro, onde se adensou a discussão sobre a ameaça à escola, à filosofia e à democracia e, mais uma vez, se ressaltou a importância de observarmos atentamente o que há de ordinário na escola, em seu cotidiano, e compreendermos os seu elementos constitutivos.

Ainda tocada por essas experiências, propus no Amã, curso de (des)formação docente, uma sessão do filme Elogi de l'escola, como parte das atividades do Eixo 3 – Afeto, Autonomia, Horizontalidade e Construção Coletiva, justamente por compreender que a experiência retratada no filme sobre a Escola de Bordils (Catalunha, Espanha), na ocasião da comemoração de seus 75 anos de existência, era um exemplo emblemático e totalmente coerente com os conceitos propostos para a reflexão no referido eixo, mas também uma possibilidade de aproximação amorosa às escolas que constituem as redes de conhecimentos e afetos que formamos e nas quais nos formamos. Na conversa a partir do filme pudemos nos aperceber e falar desta aproximação amorosa, da importância de compreendermos organicamente as mudanças e permanências na/da escola e da necessária articulação entre presente, passado e futuro (em defesa) da escola pública, aderindo ao movimento, hoje cada vez mais afirmativo, de recusa a sua condenação e a de seus/suas educadores/educadores. Foi, portanto, um encontro muito bonito de aprendizagens e de partilha de afetos, posso dizer, concordando com Larrosa: "A escola é lugar onde decidimos se amamos o mundo o bastante para 'transmiti-lo' aos que chegam".

Desse momento de partilha participaram educadoras das escolas da rede municipal de ensino de Manaus, estudantes e mães/país animados pela discussão sobre educação/escola pública. O Amã, que no tupi guarani significa "envolver”, é uma proposta ação político-pedagógica articulada/pensada por três coletivos: Coletivo Escola Família Amazonas - CEFA (Manaus); Coletivo Construindo o Saber (Niterói) e Coletivo [Re]Considere (Niterói).

Deixo, portanto, o meu elogio e mensagem às pessoas que tornaram esse momento possível: sigamos na resistência criativa!

Por Ceane Simões, mãe de estudante da rede municipal de ensino, professora da UEA e membro do CEFA.

* Projeto desenvolvido fundamentalmente para a discussão sobre a escola e seu caráter público, comum e de igualdade, a partir da ideia de escola como “tempo livre” e “espaço público”, que são argumentos trabalhados na obra Em defesa da Escola: uma questão pública de Jan Masschelein e Maarten Simons (2015). O resultado disso foi a obra Elogio da Escola, organizada por Jorge Larrosa.